Nós, alunos de Arquivologia, sabemos da precariedade do nosso curso, principalmente com relação ao grupo docente. Segue, como forma de nosso apoio, a mensagem do Professor José Maria.
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Profa. Gláucia da Rocha Figueiredo
Coordenadora do Curso de Arquivologia
Senhora Coordenadora,
Na reunião departamental realizada no dia 21 de agosto, foi deliberada a área para a qual será destinada a próxima vaga para docente do Departamento de Ciência da Informação. Encaminhei a proposta de que essa vaga fosse destinada à área de Arquivologia. Uma outra proposta foi para o preenchimento da vaga com um professor para Gestão e Recuperação da Informação. A plenária aprovou que a vaga terá como área Gestão e Recuperação da Informação 'com ênfase na abordagem arquivística' .
Reproduzo abaixo mensagem enviada no dia 22 de agosto aos demais colegas do GCI, na qual sistematizo os argumentos por mim apresentados na reunião departamental no dia 21, a favor de um concurso para a área de Arquivologia.
Espero que essa Coordenação possa atuar no sentido de revertermos a grave situação da área de Arquivologia da UFF.
Cordialmente,
Prof. José Maria Jardim
Prezados Colegas,
Na reunião departamental de ontem, 21 de agosto, apresentei algumas considerações para respaldar minha proposta de que a vaga disponível para professor fosse destinada à área de Arquivologia. Considerei conveniente registrar essas considerações e partilhar com todos os colegas, dado que nem todos estavam presentes.
Defendi que a vaga fosse destinada para a área de Arquivologia, embora reconhecendo que atualmente o GCI tem também carências em outras áreas e sub-áreas. Minha proposta envolvia a graduação, a pós-graduação e a necessidade de ampliarmos a competência do GCI em termos de Arquivologia, deixando claro que essa não é uma perspectiva insulada. Portanto, o professor a ser contratado teria também que demonstrar a capacidade de se inserir nas áreas de diálogos que supostamente existem no GCI ou que estão, a princípio, mapeadas naquilo que chamamos de 'tronco comum' na formação de arquivistas e bibliotecários. Além, é claro, de se inserir na pós-graduação e ampliar nossa densidade em termos de pesquisas.
Em 1993, o então Departamento de Documentação contava com 8 professores envolvidos em disciplinas específicas de Arquivologia. Esse número foi reduzido ao longo dos anos e hoje contamos com apenas 4 professores. Há indicações, ainda não formalizadas, de que um desses colegas solicitará aposentadoria em 2009. O concurso para professor de Arquivologia - já em curso e o primeiro para essa área em 15 anos - garantirá mais um docente. Porém, face ao exposto, seguiremos contando com apenas 4 professores em breve. Vale lembrar que as duas vagas para docente obtidas pelo GCI este ano foram resultado da aposentadoria da Profa. Maria Luisa Lodi e do falecimento da Profa.Odila, ambas envolvidas com disciplinas de Arquivologia. No
entanto, apenas uma vaga foi destinada à Arquivologia. Quando contava com 8 professores, a carga horária do nosso Curso de Arquivologia era de 780 horas (currículo antigo) de disciplinas específicas. No atual currículo, o Curso conta com 600 horas de disciplinas específicas (segundo informações enviadas pela Profa. Gláucia, Coordenadora do Curso de Arquivologia) . Essa diminuição de carga horária específica, não foi apenas fruto de uma estratégia pedagógica, mas de uma solução que respondesse, já àquela altura, à diminuição do número de professores com envolvimento em disciplinas arquivísticas. As disciplinas específicas correspondem a 990 horas no curso de Arquivologia da UNI-RIO e a 770 horas no da UFSM, para citar dois dos cursos mais antigos da área, junto ao da UFF (conforme informações obtidas com colegas desses cursos).
Comparando o nosso cenário com esses dois cursos e o da UNB, nossa situação é, no mínimo, grave, mesmo levando-se em conta as singularidades de cada realidade institucional.
UnB: 8 professores
UNI-RIO: 13 professores
UFSM: 11 professores
A realidade quantitativa não é por si só um determinante absoluto, mas é um indicador significativo. As perdas acumuladas pela Arquivologia na UFF ao longo dos anos, ao lado de uma maior ampliação das nossas funções na especialização e no Mestrado/Doutorado, não serão supridas com um professor a ser aprovado no concurso a ser realizado em setembro.
Como mencionado anteriormente, no que tange às habilidades específicas, nosso aluno de graduação em Arquivologia hoje é menos solicitado em termos de carga horária do que os da UNI-RIO e do da UFSM, por exemplo. Isso não significa necessariamente que a quantidade de carga horária seja o equivalente, de forma imediata, à qualidade da formação. No entanto, o reduzido número de professores de Arquivologia é um convite a uma estrutura pedagógica limitada para a formação de arquivistas e também dos mestres em Ciência da Informação pelo GCI.
Necessitamos, na formação de arquivistas, de um 'tronco comum' bem concebido e executado. Porém, carecemos de disciplinas, reflexões, atividades , orientação, pesquisa, etc, em dimensões específicas da Arquivologia, algo que hoje é mínimo no GCI. Não formaremos profissionais de qualidade com um tronco comum bem administrado e disciplinas específicas que refletem a fragilidade da Arquivologia no GCI. A produção de nossas zonas de convergência e interdisciplinarida de pode ser apenas uma retórica sedutora se não contarmos com um mínimo de quantidade (e qualidade, claro) de atores com capacidade de diálogos. Em termos de Arquivologia, nossa capacidade hoje está muito longe disso.
Há evidências claras de que atualmente, na UFF, tenhamos mais sucesso quando se trata da graduação de bibliotecários do que de arquivistas. Esse cenário não será minimamente revertido sem a ampliação das nossas competências específicas em Arquivologia ou apenas com a ampliação da atuação do quadro docente atual. Por outro lado, a nossa debilidade quantitativa e qualitativa atual na área de Arquivologia tem claras conseqüências na pós-graduação, seja na especialização com o Arquivo Nacional (quando concebida, contávamos com a Profa. Odila à frente de disciplinas essenciais do campo arquivístico) ou no Mestrado, um projeto no qual pretendemos marcar como um dos diferenciais a nossa capacidade de contemplarmos também
indagações da Arquivologia.
Cabe lembrar que o curso de Arquivologia foi criado em 1978 com as melhores intenções, porém com evidentes limitações, pouco contornadas ao longo de três décadas. A precariedade da área de Arquivologia no GCI naturalizou- se ao longo dos anos, minimizada aqui e ali por esforços individuais, porém jamais problematizada em toda a sua extensão. Não se trata de buscar simetrias inexistentes entre Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência da Informação ... Muito menos, na formação que oferecemos para arquivistas e bibliotecários na UFF, além dos nossos especialistas, mestres e doutores. No entanto, é importante uma posição acadêmica e política no sentido de tentarmos minimizar desigualdades excessivas que fazem parte da história e cultura do GCI. Sem isso, a área de Arquivologia na UFF estará condenada a uma condição ainda mais periférica. Perderá, cada vez mais, o reconhecimento que tem no cenário nacional, duramente conquistado ao longo de anos, apesar de uma série de limitações. Sem um compromisso do GCI na reversão desse quadro, perderemos não apenas em termos de Arquivologia. Perderá o Departamento de Ciência da Informação da UFF. Sem pretender esgotar o tema e nem dar conta de todas as suas dimensões, partilho essas indagações na perspectiva de, juntos, visualizarmos melhor esse quadro, E assim, supondo que essas inquietações encontrem acolhida no Departamento, procurarmos as alternativas políticas, administrativas e acadêmicas.
Saudações,
José Maria